segunda-feira, julho 25, 2011

No trilho do Atlântico








Lembro-me de um lugar onde o corpo se abandonou e o pensamento se encheu de uma tranquilidade sem igual. Dessas férias, há cerca de vinte anos em S. Miguel, trago ainda o travo do chá e o olhar preso de uma praia de areia preta bela e vazia em pleno Agosto. Dizem-me que todas as ilhas, embora tão próximas, são todas diferentes, e que é preciso descobrir cada uma delas com o coração limpo, pronto para se deixar possuir.


É assim que vou.


Saberei gravar as fotos na pele.


~CC~


(a todos os que por aqui passam umas boas férias)

(estarei absolutamente sem internet)


sexta-feira, julho 22, 2011

Terapêutica

Nem preciso de divã, chega um post de quanto em quando.

http://cc-mesfilhas.blogspot.com/

vou arrumá-lo ali na estante do lado, está a precisar de uma organização urgente (mas vou ainda adiar para mais uns tempos).

~CC~

No ligeiro ondular





Aquele dia

naquele dia

pedindo perdão pelas muitas folhas gastas

arrumadas a tinta em 12 exemplares

fotografei-as

altas, grandes, velhas

para me inundar

campo grande




no ligeiro ondular das vozes

que sopravam mansas

as folhas

fechei os olhos

tantas noites por dormir



embalei-me nelas

majestosas.


~CC~


quarta-feira, julho 20, 2011

Pulsação

O tempo interior é outra geografia de horas, minutos e segundos.

Oiço a minha pulsação para me sentir.

A tempestade do mundo envolve-me e arrasta-me sem me tocar. Já gastámos todas as palavras que rimam com crise. Já se escreveu quase tudo. Não sabemos como abrir as janelas.

É como se estivesse a voltar de uma viagem sem nunca ter partido.

E o vento tem estado tão forte, assobia nas noites que tardam a aquecer.

Penso nos livros a colocar na mala de viagem. Penso no mar.

Oiço de novo a minha pulsação, quero tanto sentir-me.

~CC~

sábado, julho 16, 2011

Cinco anos, meses dias, muitas horas...e ainda falta um bocadinho...

Acordei e adormeci nestes cinco anos pensando muitas vezes que não seria capaz, outras tantas determinada a chegar ao fim, obstinada. Na verdade tudo se assemelha a uma corrida de fundo, é preciso resistir. Daqui a um tempo saberei dizer o que ganhei, agora ainda não consigo.

Ontem depositei 12 exemplares na secretaria da Universidade e inscrevi-me para a prova oral.

E tive saudades da minha ardósia, dos dias a emergir na ponta dos dedos.

E muitas saudades do tempo ser tempo, tempo de estar.

Agora vamos ver.

~CC~

sexta-feira, julho 08, 2011

Em breve

Em breve
as palavras correrão lume
e o meu sangue acordará de tão longo sono.

Em breve
o sabor das coisas
que nenhum Verão chegue mais sem me dizer.

~CC~

segunda-feira, julho 04, 2011

ALMAR (XIII)

Quando a bebé nasceu, o meu olfacto foi completamente tomado pelo cheiro do leite. Foi através desse cheiro que encontrei a minha mãe. O cheiro mais primordial de todos, o do animal que nos resta. Não tinha nenhuma pista por onde começar a procurar. Do acampamento não restava nada.

Primeiro tracei o mapa dos rios do país, o que quer que fosse que restava de Almar não podia estar longe do leito de um rio. Com um círculo azul assinalei as povoações mais próximas desse rio. E depois o cheiro a leite, este cheiro. Os Almar nunca tinham sido pastores, por isso o cheiro a leite era um estranho sinal. Mas era fortíssimo, adocicado, maternal.

Os Almar estariam assim próximos de uma terra de leite, de pastagens, de pastores. Às vezes achava que esse cheiro que não me abandonava era realmente uma pista. Outras vezes que era apenas a minha condição de fêmea a falar. O mais forte dos chamamentos era a vontade de levar a minha menina para junto do meu povo, um tratado de dever imprimido na minha pele. De todas as povoações próximas dos rios, marquei aquelas em que se fabricava leite ou queijo.

Quando lá chegava não procurava pelos Almar, mas por uma ou mais mulheres de cabelos quase vermelhos.


~CC~

sábado, julho 02, 2011

rir contigo


...porque esta noite me apetece rir...


e isso tantas vezes me salvou do desespero.


~CC~