segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Contas

Aprendi lentamente a conseguir esquecer metade das coisas que doem. Assim só fico com uma metade a doer.

E com essa metade consigo evitar o afogamento.

Cerca de metade dessa metade desfaz-se perdida no modo como o sol vem acordar as flores.

E apenas com um quarto de dor até consigo uns belos sorrisos a cada manhã. E isso é muito mais que evitar o afogamento.

~CC~

sábado, fevereiro 26, 2011

Dúvida metódica

Na crónica de hoje, no Expresso, Clara Ferreira Alves conta-nos o drama de Lara Logan, repórter de Guerra americana que foi violada no Egipto, no meio da confusão entre manifestações a favor e contra Mubarak. Parece ser duvidosa a atribuição da responsabilidade a uns ou a outros, embora do que se depreende do texto, tenham sido os mesmos homens que gritavam por Liberdade, e que nós aplaudimos com entusiasmo, porque a palavras Liberdade é tão mágica para a vida como o ar que respiramos.

O tempo parece ser de festa, e todos aplaudem. E no entanto, há qualquer coisa que congela os meus aplausos, e isso não é certamente admiração pelos ditadores. É o medo pelas mulheres, este mesmo medo que agora enche para sempre a vida de Lara Logan.

Espectadora de teatro como do mundo, eu nunca bato palmas a meio de qualquer coisa, só a comoção final me faz levantar da cadeira, e aí sim, se for preciso aplaudir, com comoção.
~CC~

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Curtas (VI)

O dia acordou na minha alma ambivalente. Está sol e passei desde há uma semana a contar quantos minutos de dia há a mais, a conquista da noite é o meu rumo até à Primavera, e quando ela chegar terei sobrevivido a mais um Inverno. Não sei até quando os conseguirei suportar.

Tu não estás e não virás. Há uma parte de mim que compreende tudo, e outra que nada compreende.

Mesmo certa é apenas a falta de um beijo.

~CC~

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Curtas (V)

Os índios da meia praia são os meus primos a correr descalços pelas ruas de Olhão.

Andavam também à solta nos olhos do Zeca, e habitavam o seu coração salgado. A única coisa possível a dizer é que são vinte e quatro anos de saudade, se podemos dizer saudade de alguém que não sendo nosso, foi de todos nós.
~CC~

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Curtas (IV)

Com dez anos subiu ao telhado da escola e disse que se ia atirar de lá. Dias antes a mãe tinha dito que não o queria mais, e foi pedir a uma instituição que ficasse com ele. Podemos condená-la, mas não antes de ouvir a história triste que também terá para contar. Condenar é tão simples.
Fiquei apenas a pensar nos abraços que faltaram. À mãe, ao filho.

E nas aulas que fizeste hoje, à base de abraços.

Nas aulas que também farei com muitos abraços.

É preciso acreditar, pedir aos meninos que desçam dos telhados, abraçá-los.

~CC~

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Curtas (III)


As mulheres, todas elas em sonhos flores voadoras.
~CC~

(e quando as vejo gritarem liberdade nas praças de belos nomes árabes, quando as vejo vestidas com burkas, abro os meus olhos de espanto, pensando como será possível voar com panos tão escuros, tão pesados.)

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Curtas (II)

Se nascesse outra vez, talvez pudesse desenhar com esta precisão geométrica os caminhos. Não andaria tantas vezes às voltas, a maior parte das vezes sempre à procura do sol, ainda que em diversas formas de gente.

~CC~


terça-feira, fevereiro 15, 2011

Curtas (I)

Nem sempre sabemos que aquele é um momento feliz. Só sabemos depois, já cobertos de saudade.
~CC~



sábado, fevereiro 05, 2011

Final Tese (III)

Até breve
~CC~

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Final Tese(II)

Desde o Verão que não leio um livro de um autor fora do campo técnico ou científico. É verdade que leio muito, contudo, nada do que leio me abana, me leva, me muda.

(ai se os meus professores lessem este blogue!)

~CC~

Final Tese (I)



Passar pelas lojas e não me apetecer comprar nada. As coisas, se as toco, parecem-me vazias, como se as minhas mãos não as pudessem agarrar. Não querermos nada, haverá melhor modo de poupar.

~CC~

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Final tese



Os amigos ligam cada vez menos. E sentimos como dolorosa a sua falta, enquanto nos sabemos praticamente indisponíveis.

~CC~

Ética adolescente (II)

- O teu namorado é mesmo bonito, porra!
- É bonito é...infelizmente!
- Então porquê? Preferias que fosse feio?
- Queria era que fosse bonito só para mim!

~CC~

(Fertagus, ainda há pouco)

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Ética adolescente

- De quem eu gosto mesmo é daquela miúda que anda com o F.
- É pá...tens é que saber se eles são namorados ou só curtem!
- Achas que faz diferença?
- Então não...se só curtem podes avançar, és só mais um.

~CC~

(À porta da escola)