quarta-feira, junho 27, 2012

Desagravos (II) (M/H)


Os homens gostam de fazer coisas úteis pelas suas namoradas/mulheres, levar-lhes o carro à lavagem, pagar-lhes as contas pelo multibanco, arranjar os parafusos do estendal que se partiu, arranjar um pequeno contentor para as pilhas gastas que se espalham pela casa...Eles acham que são essas as suas pequenas provas de amor. As mulheres/namoradas gostam de palavras, frases belas, sopradas com voz quente e doce, isso sim, é para elas o amor.

~CC~

Erros fatais


Depois de tantos anos feliz na minha ignorância, comprei uma balança. Ontem dormi muito pior, não apenas pelo calor, é claro.

~CC~

segunda-feira, junho 25, 2012

Desagravos (M/H) (II)


Os filmes fartam-se de mostrar aos homens aquilo de que as mulheres gostam, quase sempre coisas inúteis tais como flores ou poesia. Eles persistem em comprar-lhes utensílios domésticos.

~CC~

Desagravos (M/H) (I)


Os homens gostam de arranjar coisas em casa, a bricolage para amadores é uma das suas artes, fazem-no julgando com isso agradar às suas namoradas/mulheres. Já elas, chamariam de bom grado um profissional para ver o assunto (bem) arrumado.

~CC~

Desagravos (M/H)


Os homens dizem frequentemente às suas namoradas/mulheres que as outras são giras, esquecendo-se, frequentemente de tecer qualquer comentário do mesmo tipo a respeito delas. Com o tempo isso vai-se tornando insuportável.

~CC~

domingo, junho 24, 2012

Península


São cactos belos com uma flor roxa impressionante e as àrvores que deitam bagas de ouro.
É a cor clara do azul do mar, mesmo quando se deixa infiltrar pela manta matreira das algas verde escuro. É um bocadinho frio é bem verdade mas é impossível não entrar - é a doçura que nos chama. É o areal que não termina pemitindo passeios sem fim.
É o gelado de amendoim de textura e temperatura absolutamente excepcional, o único que não me faz mal depois do triste episódio angolano do gelado de múcua que queria por força provar, contra todas as recomendações. Paguei bem caro. Este é fantástico e há também de eucalipto para as constipações de Verão.

É assim península que eu decidi chamar de minha terra mar.

Nem sei porque quero tanto correr mundo. Devia ficar-me por este mundo.

~CC~

PS. Não posso deixar, no entanto, de dizer que o barco é realmente caro, inacessível para a maioria dos jovens da cidade que iam lá amiúde. Mais, agora é obrigatório comprar ida e volta, não vá alguém querer ficar por lá a dormir nas dunas e afugentar os turistas endinheirados que são realmente os desejados. Contudo, há música, bar, casa de banho e ar condicionado, são barcos integralmente "de primeira", excepção ao modo de compra de bilhetes: umas máquinas que ninguém percebe e provocam filas intermináveis, obrigando a abrir em sistema de emergência a bilheteira à moda antiga.




sábado, junho 23, 2012

Tenho que concordar...


"Compreenderá que sorria ironicamente quando acrescenta a Ética Escolar a um Estatuto do Aluno assente no castigo, forma populista de banir os sintomas sem a mínima preocupação de identificar as causas. Reconheço, todavia, a sua coerência neste campo: retirar os livros escolares a quem falta em excesso ou multar quem não quer ir à escola e não tem dinheiro para pagar a multa, fará tanto pela qualidade da Educação como dar mais meios às escolas que tiverem melhores resultados e retirá-los às que exibam dificuldades. Perdoar-me-á a franqueza, mas vejo-o como um relapso preguiçoso político, que não sabe o que é uma escola nem procurou aprender algo útil neste ano de funções."



Santana Castilho, na carta aberta ao ministro Nuno Crato, leitura integral aqui

http://aventar.eu/2012/06/21/carta-aberta-ao-ministro-nuno-crato/#more-1159105

~CC~

Breves (I)


1. Ela cantaralova na casa de banho da faculdade, o pano com que acariciava ligeiramente a superficie do lavatório um mero pretexto. Era grande, gordinha, negra, a voz era grave e doce na morna que ecoava até ao bar. Por quantos anos as ouviremos cantar assim em crioulo nas casas de banho de um país distante?! Esta para mim era a segunda vez, há algum tempo atrás aconteceu-me o mesmo na casa de banho de uma área de serviço em pleno Alentejo, pelo calor morno da tarde. Desta vez meti conversa: tem uma voz bonita, nasceu em Cabo-Verde? Ela surpreendida falou baixinho, enquanto cantar, cantava alto. Nasci na Ilha de Santiago, conhece? De repente estava naquelas ruas calmas de S. Nicolau, a subir a ladeira até ao final da terra, olhando o esforço de talhar pequenas hortas com pouca chuva. E depois disse-lhe: cante, cante, nunca pare de cantar. Ela já não respondeu, pensando provavelmente que eu era um pouco louca, o que dado estarmos numa faculdade de Psicologia seria afinal normal.

2. Sou daquelas pessoas que vai sozinha ao cinema. O apelo do filme é sempre o mais forte. A tarde é dos solitários, dos velhotes e dos adolescentes. Nunca tive problema algum. Ontem um homem que se sentava na terceira fila da frente (quem é que se senta na 3ª fila nestes cinemas pequenos?!) levantou-se a meio do filme para sair. Levava na mão um saco de plástico de supermercado que me parecia quase vazio. Quando já ia a sair parou a sua marcha e ficou a olhar para mim no meio do corredor, fica ali a um metro de distância como uma estátua, penso que vamos ter problemas caso escolha sentar-se ao meu lado. Ainda por cima estou a gostar do filme e se ele se sentar, ainda vou ter que ser eu a sair. Parecem-me longos momentos em que ele está assim parado a olhar-me. Depois sai, um alívio.

~CC~





terça-feira, junho 19, 2012

Breves

1.É verdade que não chega a doer este afastamento (forçado) da Ardósia. Às vezes já não sei se é apenas o tempo que não me deixa vir aqui, nem quase respirar. Comprei na feira um daqueles antigos cadernos feitos à mão onde escrevi a minha adolescência. A escrita permanecerá ali fechada, é bem verdade. E aqui?

2. Parecia um aparato policial digno de uma maifestação de precários indignados, de suspeitas terroristas, de um verdadeiro ataque à nação, mas era tão só um homem de meia idade que tinha roubado qualquer coisa insignificante no Minipreço. Vinha escoltado por três polícias, a cara baixa. O povo silencioso a ver. Três carros da polícia parados, três!

3. Ouve-se o povo gritar "golo" em dias de jogo e é apenas o que se ouve o povo gritar.

~CC~

domingo, junho 10, 2012

Despedidas


As últimas semanas de aulas arrasam-me emocionalmente. A impossibilidade de recusar a cerimónia das fitas em que é preciso subir ao palco com eles e dizer-lhes alguma coisa (que dizer nestes tempos de descrença a jovens que terminam um curso...). O cansaço que me surge de tantos anos a ser sempre eu a acompanhá-los quando há tantos professores no curso, ainda assim este ano tive a companhia de uma colega. Ainda queria sentir-me feliz mas a parte da exaustão que carrego matou a minha alegria, perdi a inocência e estas cerimónias pesam-me.

As apresentações finais que duram dias inteiros e me mostram as diferenças entre eles apesar de terem passado pelo mesmo percurso, as mesmas horas no gabinete, as mesmas aulas, todo o tempo que sinto que em alguns casos foi sem utilidade, noutros uma conquista, tempo bem gasto. Feliz com alguns resultados, alguns muito bons.

Há choros e sorrisos e imagens que eles prepararam dos três anos que passaram por aqui, há emoção e carinho e são sentidos os abraços finais, apesar de ser árduo o caminho, há agora respeito e ao mesmo tempo há proximidade entre docentes e estudantes, não se anulam. Nunca tive nada disto nas universidades pelas quais passei. Talvez isto seja o melhor que temos, esta sensação de que acompanhámos de facto um percurso de formação, que sabemos exactamente o que vale agora cada um deles. Ao mesmo tempo que sei e sinto isto, leio no jornal que os Politécnicos são em muitos casos um caixote do lixo, a última das hipóteses para quem quer tirar um curso de ensino superior. Não duvido que estão em cima da mesa cortes profundos que levarão ao fecho de muitas destas instituições, acabarão como acabam as coisas em Portugal - com um estudo encomendado para servir uma decisão política antecipadamente tomada.

~CC~